O futuro das criptomoedas está à mercê de um processo peculiar interposto pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) contra a inovadora blockchain Ripple Labs Inc.
A ação, interposta a 22 de dezembro de 2020, refere que a Ripple arrecadou mais de 1,3 mil milhões de dólares por meios ilegítimos. A queixa da SEC responsabiliza também Christian Larsen, cofundador da Ripple, e Bradley Garlinghouse, atual CEO da Ripple, referindo que obtiveram ganhos significativos no processo.
Se a SEC ganhar o caso, o XRP (a criptomoeda nativa do Ripple Blockchain) será considerado um título e não uma moeda nos EUA. Isto poderia, por sua vez, estabelecer um precedente legal de que criptomoedas semelhantes seriam classificadas como valores mobiliários. Portanto, o caso contra Ripple é importante para todas as partes interessadas no espaço criptográfico, incluindo investidores, inovadores de blockchain e legisladores em todo o mundo.
Porque é que a Ripple Labs Inc foi processada?
Entre 2013 e 2020, a Ripple Labs vendeu tokens XRP para angariar capital no valor de 1,3 mil milhões de dólares. Quando a SEC apresentou uma queixa contra a Ripple Labs no final de 2020, não havia qualquer sinal de que a SEC estivesse a monitorizar a Ripple. E na altura, o Ripple já negociava em mais de 200 bolsas.
No entanto, a SEC acreditava que Larsen e Garlinghouse tinham angariado capital ilegalmente, uma vez que o XRP não era um título registado, mas estava a ser oferecido a investidores em todo o mundo. A SEC alegou ainda que a Ripple Labs utilizava serviços de mercado para transações não monetárias em que pagavam em XRP para impulsionar as suas vendas simbólicas.
“De acordo com a queixa, para além de estruturar e promover vendas de XRP utilizado para financiar as operações da empresa, a Larsen e a Garlinghouse também realizaram vendas pessoais não registadas de XRP, totalizando aproximadamente 600 milhões de dólares.
Como é que o Ripple respondeu?
A SEC não recebeu resposta da Ripple Labs durante 39 dias. No entanto, a empresa blockchain rapidamente recorreu ao Twitter para esclarecer a posição da empresa, limpar a sua imagem e manter a confiança dos investidores. Garlinghouse proclamou que a batalha da SEC não era apenas contra a Ripple, mas contra a indústria blockchain como um todo.
Prosseguiu argumentando que a Ripple foi escolhida a dedo para escrutínio direto e que a SEC “não deveria ser capaz de escolher como será a inovação (especialmente quando a sua decisão beneficia diretamente a China)”.
Garlinghouse também escreveu um blogue que foi publicado no mesmo dia da resposta do Twitter. Explicou como a Ripple Labs trabalhou com a SEC para evitar violações regulamentares. Explicou mesmo aos funcionários da Ripple Labs que o XRP não era um veículo de investimento e que os detentores de tokens estavam completamente isolados de qualquer direito aos lucros da empresa. Se quisessem tornar-se acionistas, teriam de comprar ações da empresa, e não o token XRP.
“Isto estabelece um precedente terrível em todo o setor para qualquer empresa que trabalhe com um ativo digital. Com esta alegação, juntamente com o “selo de aprovação de boa gestão” da SEC concedido apenas à ETH e à BTC (beneficiando diretamente a China), estão a criar uma vantagem injusta para as empresas aqui nos EUA – e a beneficiar significativamente a BTC e a ETH. É simplesmente inacreditável que a SEC, um regulador americano, esteja no negócio de escolher vencedores neste setor (ou realmente em qualquer setor) e desfavorecer as empresas aqui em os EUA”, referiu o blogue.
Mais importante ainda, Garlinghouse declarou com segurança: “Não estamos apenas do lado certo da lei, mas estaremos do lado certo da história”. O CEO da Ripple referiu ainda que os investidores norte-americanos representavam apenas 5% da capitalização bolsista da Ripple na altura, o que significa que a sua influência no mercado e nos órgãos de supervisão regulamentar seria insignificante.
Resposta legal oficial da Ripple Labs:
Após o conflito verbal nas redes sociais e vários esclarecimentos sob a forma de posts em blogues e tweets, a Ripple apresentou oficialmente a sua resposta num documento de 93 páginas que citava quatro contabilistas, conforme citado abaixo:
1. “A SEC está desfasada a nível nacional e global”, uma vez que nenhum regulador alguma vez mencionou que uma moeda virtual como o XRP deve ser registada como uma prioridade de segurança para a reclamação, falhando assim em fornecer clareza jurídica em si.
2. “A SEC está desfasada a nível nacional e global”, uma vez que nenhum regulador alguma vez mencionou que uma moeda virtual como o XRP deve ser registada como uma prioridade de segurança para a reclamação, falhando assim em fornecer clareza jurídica em si.
3.º “A SEC está a escolher vencedores e vencidos”, porque a própria SEC declarou que as vendas de Bitcoin e Ether “não são transações de valores mobiliários”, o que significa que o XRP não pode ser discriminado.
4.º “A SEC deturpou os factos” porque interpretou e apresentou declarações descontextualizadas. O próprio Garlinghouse escreveu que iria provar que as alegações da SEC eram falsas no devido tempo.
Ripple vs SEC: opinião e veredicto final
O veredicto final neste caso extremamente assistido ainda não foi tornado público. No entanto, a decisão é crucial, uma vez que revelará como os reguladores nos EUA veem a inovação e a tecnologia blockchain.
Se a decisão for a favor da SEC, entorpecerá os sentimentos de todos os protagonistas da criptografia e desencadeará um enfraquecimento do interesse no desenvolvimento tecnológico dos criptossistemas.
Mas, se o tribunal favorecer a Ripple Labs, poderão ser aplicadas regulamentações menos rigorosas. Além disso, a inovação técnica e o desenvolvimento de blockchain seriam livres de continuar. Poderá também significar que outros países se inspiram e tomam iniciativas para desenvolver ainda mais a tecnologia subjacente.